sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A Privataria Tucana: denúncias que não irão para debaixo do tapete?



O Sindijor PR participou da coletiva de imprensa promovida na sede do Sismuc com o autor do livro que traz a público documentos sobre “o assalto ao patrimônio público brasileiro”


“Meu livro já é um best seller”, disse com bom humor Amauri Ribeiro Jr. na coletiva ontem no auditório do Sindicato dos Trabalhadores nos Serviços Municipais de Curitiba (Sismuc). O autor do livro “A Privataria Tucana” fez o primeiro grande debate fora do Eixo Rio-SP e não desafinou ao falar sobre seu trabalho investigativo. “Espero que as medidas contra a lavagem de dinheiro prossigam. Que as denúncias não sejam mandadas para debaixo do tapete”, diz. O clima da coletiva e, mais tarde, do lançamento foi movimentado. Assim como o mercado editorial brasileiro após o lançamento da obra. Fernando Henrique Cardoso que o diga, após desqualificar o trabalho investigativo, prometeu processar Amauri Jr., mas desistiu de tudo e tirou férias mais cedo em 2011. O fato é que “A Privataria” cresceu a passos largos, com denúncias da ‘Era das Privatizações’ no governo FHC e do ex-ministro do Planejamento, José Serra.


Inicialmente a grande imprensa ignorou a obra de Amauri Ribeiro Jr., porém as discussões em redes sociais, num primeiro momento, fizeram com que a situação fosse irreversível e os donos dos meios de comunicação colocassem “A Privataria” em pauta. “A Carta Capital começou a repercutir. Os outros meios mais conservadores desqualificaram. Um juiz chegou a dizer que meu livro mostra o caminho da lavagem do dinheiro”, explicou o autor. O jornalista Luis Nassif, por exemplo, chegou a dizer que é "a reportagem investigativa da década”. Ainda assim, Amauri Jr. alfinetou: “A grande imprensa não gosta de falar das privatizações, pois atingem os próprios donos”.


Coletiva


O auditório do Sismuc recebeu um jornalista tranquilo e seguro na sua fala. Muitas vezes num tom informal, Amauri Jr. explicou o porquê da demora na publicação do trabalho (12 anos). “Me dediquei e me especializei, nos últimos anos, em crime fiscal. O livro, muitos vezes, ‘bate’ na imprensa. Desmonta muita matéria mentirosa sobre o assunto. Eles baixaram o nível. Fui acusado de estar de um lado, mas não estava em lado algum. Pra mim tudo isso foi um troféu”.


Natural de Londrina e criado em Santa Cruz de Monte Castelo (Noroeste do estado), Amauri Jr. diz nunca ter sofrido muitos processos pelas matérias investigativas e que nunca perdeu um deles. Brinca com o ex-presidente da República (FHC), “após saber da obra, entrou em depressão o coitado”. O jornalista já foi acusado de espionagem na campanha da presidente Dilma Rousseff, também pela Polícia Federal de violar o sigilo fiscal do alto escalão tucano e de familiares do ex- governador José Serra. Porém se mantém firme: “devido ao meu livro estar muito embasado, o outro lado fica meio perdido. Como está tudo documentado, muitos que ameaçam processar acabam desistindo”.


Hoje o que se vê é que a discussão já saiu do meio político, em que os tucanos desqualificavam e os petistas elogiavam. A obra atinge um grande público e isso foi visto após a coletiva, quando o auditório foi aberto ao debate e autógrafos. Mais de 300 pessoas prestigiaram o evento, muitos trouxeram seus exemplares. Ainda na coletiva, o Sindijor PR questionou se publicações através de reportagens em série não seriam mais eficazes para atingir a população mais pobre, Amauri Jr. explicou que “o livro é a melhor forma e está tendo boa saída, a blogosfera tem ajudado muito e disponibilizamos algumas partes da obra para as pessoas”.


‘O Piloto’


As opiniões contrárias ao livro dizem que as movimentações financeiras não provam a participação direta de José Serra, um dos principais alvos das acusações. Sobre isso o autor explica que são muitos familiares envolvidos, seria cinismo acreditar não haver envolvimento. Além disso, o “economista Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor internacional do Banco do Brasil no período FHC, era tesoureiro do ex-presidente FHC e também do Serra. Ricardo Sérgio era ‘o piloto’ das privatizações e está tudo muito bem documentado no livro”.


O jornalista explica que “é decepcionante” o que envolve a política brasileira. Fernando Henrique Cardoso, José Serra, empresas, paraísos fiscais, lavagem de dinheiro, desvio do dinheiro público, são palavras repetidamente explicitadas por Amauri Jr. Além da questão do Banestado, que é ponto crucial nas investigações sobre lavagem de dinheiro em paraísos fiscais. “A primeira reportagem sobre o Banestado fui eu que fiz e não acho que a privatização melhorou para o povo. Não vejo benefício. A CPI do Banestado pode ser retomada, basta expedir, nos Estados Unidos, documentos necessários”, conclui o jornalista.


Foto: André Luís Rodrigues

Nenhum comentário: