segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Relato de um jornalista


Arquivo pessoal


“Entrei na faculdade de jornalismo e logo aprendi que minha condição básica de vida profissional ia girar em torno da imparcialidade. Se hoje lá de novo estivesse, brandaria ao professor: “Isso só vale quando não te deram um tiro de bala de borracha, né professor?”, pois foi o que aconteceu ontem comigo.

Fazia dez minutos que estava no Largo em busca do grupo de amigos. Um estouro, mais um, pessoas correndo. Foi só o que eu vi e ouvi. Então corri na direção contrária às explosões e fui atingido nas costas. Note: eu não vi o policial, autor do disparo, não presenciei o início da confusão, nada. Levei um tiro de bala de borracha nas costas, em meio a pelo menos três mil pessoas que se espremiam e se pisoteavam. Essa foi a tentativa desesperada pessoas comuns para fugir da violência da polícia na apertada Rua Mateus Leme, sentido Rua Treze de Maio. Covardia: é só o que me vem em mente.

A bala fez um buraco grande nas minhas costas, mas agora, já medicado, não é isso que me preocupa. A dor vai embora, mas fica a vergonha, o medo e a revolta. Vergonha de ser tratado como um marginal, medo da nossa polícia e revolta por não acreditar em uma punição.

O carnaval de Curitiba pra mim continua o mesmo. E quero inclusive estar lá novamente domingo que vem. Os policiais também serão bem vindos, a presença deles deve garantir a nossa segurança. Mas peço: deixem em casa a violência. Essa nós dispensamos”.


Felix Calderaro

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