Do Observatório da Imprensa
Em artigo publicado neste Observatório ("Qual a relevância dos jornalões?") avancei dois argumentos em relação aos nossos principais jornalões – Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo e O Globo – em suas versões impressas: primeiro, que eles são jornais regionais e não nacionais: O Globo é um jornal carioca, da mesma forma que a Folha e o Estadão são jornais paulistas. Eles não circulam e, portanto, não são lidos nacionalmente; e, segundo, que os jornalões e seus jornalistas funcionam dentro de uma circularidade restrita a camadas específicas da elite política e "intelectual" brasileira.
Além das evidências de pesquisas realizadas no Brasil e em outros países e do acúmulo teórico já existente no campo de estudos da comunicação, quais os dados disponíveis publicamente que permitem alguma sustentação a esses argumentos? Primeiro, claro, há informações nos sítios dos próprios jornais; e, segundo, dados (atualizados ou não), disponibilizados gratuitamente. Por óbvio, existem dados atuais, apurados por instituições especializadas, que não estão disponíveis para consulta do público em geral. Abaixo relaciono alguns dados de acesso gratuito.
Circulação
** Folha de S.Paulo
A Folha é o único dos três jornalões que não divulga os "repartes" de sua distribuição. Aqui, informa ser o "maior jornal brasileiro", ter distribuição nacional e que sua circulação é de 365.224 exemplares aos domingos e de 302.298 nos dias úteis. Já aqui, a Folha informa uma circulação de 341.527 aos domingos e de 285.675 nos dias úteis.
Dados do IVC de maio de 2007 indicavam que cerca de 79,3% (237.000 exemplares) da circulação total da Folha (299.000), circulavam no estado de São Paulo e os restantes 20,7% nas outras unidades da Federação.
** Estado de S.PauloO Estadão informa ter 1.142.000 leitores, ser o "líder de circulação em São Paulo" e circular com 267.537 exemplares aos domingos e 200.614 nos dias úteis (ver aqui). Para o número de leitores que afirma ter, o Estadão tem que ser lido por 4,26 leitores aos domingos e por 5,69 nos dias úteis. Além disso, o jornal informa os percentuais de sua circulação na Grande SP (69%) e no interior do estado (25%), num total de 94%. Nos demais estados e no Distrito Federal a circulação é de 6% [quadro abaixo].
** O Globo
O Globo, por outro lado, informa uma circulação de 350.323 aos domingos e de 247.400 nos dias úteis (ver aqui), mas só disponibiliza os dados de sua circulação referentes à região do Grande Rio [quadro abaixo, disponível aqui].
Perfil dos leitores
** Folha de S.PauloA Folha informa apenas ter quase 1,5 milhões de leitores e percentuais relativos a cinco de seus interesses [quadro abaixo e aqui]. Registre-se que, para ter o número de leitores que informa, cada exemplar da Folha tem que ser lido por 4,38 leitores aos domingos e 5,24 nos dias úteis.
** Estado de S.Paulo
O Estadão informa ter 1,14 milhões de leitores, dos quais 77% das classes A e B, 46% com escolaridade de nível superior e 27% com renda superior a 10 salários mínimos [quadro abaixo e aqui].
** O Globo
O Globo informa que 76% dos seus leitores (no Grande Rio) são das classes A e B, e 57% possuem instrução de nível superior [quadro abaixo e aqui]. A informação de que tem 1.563.000 leitores (no Grande Rio?), que consta do quadro abaixo, implica que cada exemplar de O Globo é lido por 4,46 leitores aos domingos e 6,31 nos dias úteis.
E então?
Diante dessas informações, quase todas oferecidas pelos próprios jornalões, repito aqui a pergunta que fiz no artigo publicado na edição anterior deste Observatório: merecem eles a importância que a elite política e os "intelectuais" lhes atribuem? Tenho insistindo que não. Mas, relembro: não merecer a importância que se atribui a eles não significa que devam ser ignorados. Absolutamente. Significa, ao contrário, não se atribuir a eles uma relevância que, se algum dia já tiveram, não têm mais.
Deixo, finalmente, a você, leitor(a), o julgamento sobre a procedência do argumento apresentado: a Folha de S.Paulo, o Estadão e O Globo são jornais regionais ou nacionais? Seria correto afirmar que eles "falam", sobretudo, para camadas específicas da elite política e "intelectual" brasileira?
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